Doença de Peyronie

O pênis é um órgão cilíndrico que consiste em três compartimentos. Em sua porção dorsal (superior) há dois corpos cavernosos que são circundados por uma camada de tecido conjuntivo resistente e elástica, denominada túnica albugínea. O terceiro compartimento, denominado corpo esponjoso, localiza-se abaixo dos corpos cavernosos e está circundado por uma bainha delicada de tecido conjuntivo. Este compartimento contém a uretra, o canal estreito que transporta a urina e o esperma para o meio exterior.

Esses três compartimentos estão preenchidos por um tecido altamente especializado, semelhante a uma esponja, que possui milhares de cavidades venosas. Esses espaços contém muito pouco sangue quando o pênis se encontra flácido. Durante a ereção o sangue preenche essas cavidades, o que leva os corpos cavernosos a se intumescer e pressionar a túnica albugínea. Enquanto o pênis aumenta de tamanho e se enrijece, a pele e o tecido conjuntivo do pênis permanecem frouxos e elásticos para acomodar essas mudanças.

A doença de Peyronie é uma condição inflamatória adquirida do pênis. A principal manifestação da doença de Peyronie é a formação de uma placa de tecido cicatricial dentro da túnica albugínea do pênis. Essa placa geralmente pode ser palpada abaixo da pele peniana. Essa placa não é um tumor, mas pode levar a problemas sérios como ereções dolorosas e/ou curvas.
O nome doença de Peyronie tem origem no médico François Gigot de la Peyronie, médico pessoal do rei Louis XV da França. De la Peyronie escreveu uma descrição detalhada da doença em 1743 e, desde então, seu nome se associa a essa doença.

SINTOMAS:

As placas da doença de Peyronie se desenvolvem com maior frequência na porção superior (dorsal) do pênis. As placas reduzem a elasticidade da túnica albugínea e podem levar o pênis a se curvar no sentido superior durante a ereção. Apesar das placas se localizarem com maior frequência na porção superior do pênis, elas também podem surgir nas porções inferiores (ventrais) ou laterais, levando a curvaturas para baixo ou para os lados, respectivamente. Alguns homens têm mais de uma placa, o que pode resultar em curvaturas complexas.

Em alguns homens, pode se desenvolver uma placa extensa, envolvendo toda a circunferência peniana. Essas placas tipicamente não levam a curvaturas, mas podem causar uma deformidade em ampulheta. Em outros casos graves, a placa pode se impregnar com cálcio e se tornar muito rígida, com consistência semelhante a um osso. Além da curvatura peniana, muitos pacientes se queixam de redução do comprimento do pênis.

Já que há muitas variações nessa doença, os homens com a doença de Peyronie podem se queixar de sintomas diferentes. Curvatura peniana, “caroços” no pênis, ereção dolorosa, ereção com menos rigidez e dificuldade na penetração devido à curvatura são queixas comuns que levam os homens com a doença de Peyronie a procurar atendimento médico.
A doença de Peyronie pode impactar muito negativamente a qualidade de vida. Estudos mostram que mais de 75% dos homens com essa doença apresentam consequências psicológicas (estresse). Infelizmente, muitos pacientes sentem-se envergonhados e optam por sofrer em silêncio em vez de procurar auxílio médico.

Estima-se que a doença de Peyronie ocorra em ate 1% a 23% dos homens entre 40 e 70 anos de idade. É uma doença incomum em homens jovens, mas já foi descrita em pacientes na quarta década de vida. A prevalência real da doença de Peyronie pode ser maior do que essas estimativas uma vez que muitos pacientes não procuram auxílio médico.
Curiosamente, tem-se diagnosticado mais casos de doença de Peyronie nos últimos anos. Isso provavelmente é resultado do desenvolvimento de drogas orais eficazes para o tratamento da disfunção erétil. Com mais homens procurando tratamento para disfunção erétil, muitos casos de doença de Peyronie que não teriam sido diagnosticados no passado se tornaram conhecidos pela comunidade médica. É provável que o número de homens em tratamento contra a disfunção erétil continue a aumentar no futuro. Por esse motivo, a quantidade de homens diagnosticados com doença de Peyronie também deve aumentar.

O QUE CAUSA A DOENÇA DE PEYRONIE?

Os cientistas estão mistificados pela causa da doença de Peyronie desde antes de sua caracterização por François Gigot de la Peyronie. Apesar de ainda nao se entender completamente o processo que leva à doença de Peyronie, muitos avanços foram feitos nos últimos anos.

A maioria dos especialistas acredita que a doença de Peyronie é provavelmente consequência de um trauma peniano leve. Propõe-se que a origem mais comum desse tipo de trauma seja a atividade sexual vigorosa (que poderia flexionar o pênis durante a penetração ou expor o pênis a pressão do osso púbis da parceira) apesar de lesões resultantes de atividades esportivas ou acidentes também poderem ter papel importante. Uma lesão à túnica albugínea pode desencadear uma cascata de eventos inflamatórios que resulta em um processo denominado fibrose, um termo médico que significa a formação de tecido cicatricial. Esse tecido cicatricial em excesso forma a placa da doença de Peyronie.

Nem todos os homens que sofrem um trauma peniano leve desenvolvem a doença de Peyronie. Por esse motivo, a maioria dos pesquisadores acredita que deve haver fatores genéticos ou ambientais que contribuem para a formação da placa. Os homens com certas doenças do colágeno (como a contratura de Dupuytren ou a timpanoesclerose) e os homens com parentes com doença de Peyronie têm risco aumentado de desenvolver a doença. Outras situações como diabetes, tabagismo ou um trauma pélvico também podem resultar em cicatrização anormal e podem contribuir para o desenvolvimento da doença de Peyronie.
A doença de Peyronie é essencialmente um desarranjo na cicatrização de feridas. Uma vez que está relacionada à cicatrização, a doença é um processo muito dinâmico inicialmente, mas com o tempo as mudanças inflamatórias tendem a diminuir. Na verdade, essa doença se divide em dois estágios distintos. O primeiro estágio é a fase aguda, que dura seis a dezoito meses e se caracteriza por dor, aumento da curvatura peniana e formação de placas penianas. O segundo estágio é a fase crônica, quando a deformidade se estabiliza. À semelhança da primeira fase, na fase crônica a deformidade pode interferir com a atividade sexual e pode haver disfunção erétil associada. A dor com a ereção tipicamente já se resolveu nesta fase.

COMO SE DIAGNOSTICA A DOENÇA DE PEYRONIE?

O exame físico feito por um urologista experiente geralmente é suficiente para diagnosticar a doença de Peyronie. As placas rígidas geralmente podem ser palpadas com ou sem ereção. Pode ser necessário induzir uma ereção no consultório para que se possa avaliar adequadamente a curvatura peniana; isso costuma ser feito através da injeção direta no pênis de uma medicação que provoca a ereção. Fotografias do pênis ereto também podem ser uteis na avaliação da deformidade. Em alguns casos uma ultrassonografia ou radiografia do pênis podem ser solicitadas para caracterizar a placa ou para verificar a presença de calcificação.

TRATAMENTO:

Em 13% dos casos a doença apresenta remissão espontânea (melhora sem tratamento). Muitos médicos recomendam o tratamento conservador (não cirúrgico) por pelo menos 12 meses após o inicio dos sintomas.
Homens com placas pequenas, curvaturas mínimas, ausência de dor e função sexual satisfatória não necessitam de tratamento. Já os homens na fase aguda que apresentam um ou mais dos fatores supracitados podem se beneficiar do tratamento clinico. Infelizmente há poucos ensaios clínicos bem desenhados para avaliar os remédios que são utilizados contra a doença de Peyronie, portanto a verdadeira eficácia de muitos desses tratamentos não está clara.

Medicações orais: Vitamina E: Um antioxidante que costuma ser prescrito na fase aguda da doença de Peyronie por apresentar poucos efeitos colaterais e baixo custo. Apesar de haver estudos desde 1948 demonstrando reduções na curvatura peniana e no tamanho da placa com uso de vitamina E, a maioria desses estudos não usou grupos placebo como controle. A maioria dos estudos que usou um grupo placebo demonstrou que a vitamina E aparentemente não apresenta melhores resultados que o placebo, o que põe em questão a eficácia desse tratamento.

Injeções Penianas: Injetar uma droga diretamente na placa da doença de Peyronie é uma alternativa atraente ao tratamento por via oral. A injeção permite a introdução da droga diretamente na placa, o que resulta em maiores concentrações do principio ativo na placa e mais efeitos no local. Para reduzir o desconforto, geralmente se administra um anestésico local antes da injeção.
Uma vez que a injeção na placa é um tratamento minimamente invasivo, ela é uma boa opção em pacientes na fase aguda e nos pacientes que não desejam ser submetidos à cirurgia.

Cirurgia: A cirurgia é reservada para homens com deformidades graves que impedem a atividade sexual satisfatória. A maioria dos médicos recomenda evitar a cirurgia até que a placa e a deformidade estejam estáveis por pelo menos seis meses. Uma avaliação do suprimento sanguíneo peniano utilizando um agente farmacológico indutor de ereção costuma ser realizada antes de uma cirurgia. Uma ultrassonografia peniana pode ser feita no momento desta avaliação. Esses dois exames revelam se o paciente sofre de disfunção erétil importante e fornecem informações sobre a anatomia que ajudam a direcionar a escolha da técnica cirúrgica.

EM LINHAS GERAIS, HÁ TRÊS ABORDAGENS PARA A CORREÇÃO CIRÚRGICA DA DOENÇA DE PEYRONIE:

Procedimentos que encurtam o lado oposto à placa/curvatura
Esses procedimentos são, em geral, seguros, tecnicamente pouco complicados, e resultam em risco reduzido de complicações como sangramentos ou piora da função erétil. Uma desvantagem em particular dessa abordagem é que ela tende a resultar em algum grau de encurtamento peniano. Por esse motivo, procedimentos de encurtamento costumam ser indicados para homens sem disfunção erétil ou com disfunção leve, curvaturas leves ou moderadas e pênis longos.
Exemplos dessa abordagem incluem a cirurgia de Nesbit, e suas variações.

Procedimentos que alongam o lado encurtado (o lado da placa)
Esses procedimentos são indicados quando a curvatura é grave ou quando há um entalhe (uma “cintura” ou deformidade em ampulheta). Nesses casos, o cirurgião incisa (corta) a placa para aliviar a tensão. Em alguns casos pode-se remover uma porção da placa. Após a placa ter sido incisada, a abertura na túnica precisa ser preenchida com um enxerto. Essas cirurgias podem corrigir curvaturas graves, sem encurtamento significante do pênis na maioria dos casos. Infelizmente, esse tipo de procedimento é tecnicamente desafiador e apresenta risco de piora da função erétil. Por isso, procedimentos de alongamento não costumam ser recomendados, exceto em casos de deformidade severa em homens com boa função erétil.
Há muitos materiais diferentes disponíveis para serem utilizados como enxerto. Até o momento, nenhum se mostrou claramente superior aos demais.

Implante de próteses penianas
O implante de uma prótese peniana, seja ela inflável ou maleável, dentro do corpo cavernoso, é um bom tratamento para os pacientes com doença de Peyronie e disfunção erétil moderada a grave. Na maioria dos casos, o implante da prótese vai corrigir tanto a falta de rigidez quanto a curvatura. Quando apenas o implante da prótese não corrigir a curvatura, o cirurgião pode incisar a placa e cobrir a cavidade resultante com um enxerto.

Anterior
Disfunção Erétil – Impotência Sexual
Próximo
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)
Menu